| Alice Vergueiro/Futura Press/Folhapress |
Pessoas próximas à ex-candidata do
PSB à presidência da República garantem que ela não vai se posicionar a
favor da candidatura do PSDB, como os tucanos esperavam
por Eduardo Maretti, da RBA
publicado
10/10/2014 20:10,
última modificação
11/10/2014 02:37
Para aliados de Marina vinculados à Rede, existem diferenças 'intransponíveis' entre ela e Aécio
São Paulo – O esperado anúncio de Marina Silva em
apoio à candidatura de Aécio Neves é improvável e não deve ocorrer.
Pessoas próximas à ex-candidata do PSB à presidência da República
garantem que ela não vai se posicionar a favor da candidatura do PSDB,
como os tucanos esperavam, nem à de Dilma Rousseff. Na Rede
Sustentabilidade há grande pressão de setores pró-Aécio para que a
ex-ministra do Meio Ambiente defina sua posição. Um dos coordenadores da
campanha de Marina e intitulado pela mídia “porta-voz” da Rede, o
ex-tucano Walter Feldman é um dos que pressionam.
Mas vários integrantes da Rede estão trabalhando pela neutralidade,
que passa pelo voto em branco e nulo. Para esse grupo, um apoio a Aécio
Neves pode ser fatal ao futuro político de Marina. A demora na definição
começa a incomodar os adeptos de Aécio. Esperava-se que Marina
anunciasse sua posição ontem (9). Mas, em vez do anúncio, ela entregou
uma “carta aberta” ao deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), com a defesa de
pontos que considera fundamentais, como o fortalecimento da Fundação
Nacional do Índio (Funai) e do Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (Incra), além de fortalecimento de políticas voltadas
aos "povos e comunidades tradicionais".
A troca do aguardado anúncio pró-Aécio pelo documento causou frustração na campanha aecista. Marina se encontrou com Fernando Henrique Cardoso na quarta-feira, e teria sinalizado ao ex-presidente que o apoio não virá. Segundo uma fonte muito próxima a Marina, “eles perceberam que dificilmente vão conseguir viabilizar esse apoio”. Um
interlocutor de Marina diz que a intensidade da pressão dos tucanos na
Rede está diminuindo. “Até para não terem que ouvir um ‘não’, o que
seria um revés para eles.”
Uma declaração de Aécio Neves, também ontem, é um indicativo dessa
frustração: "Não podemos parar nossa campanha à espera de novas
manifestações”, afirmou, em referência a Marina.
Na segunda-feira (6), os dois maiores jornais do país saíram com
manchetes quase idênticas, considerando certo o apoio de Marina a Aécio.
“Houve uma grande pressão para se colocar na voz da Marina posições que
não eram dela. Na sequência da eleição, órgãos de imprensa deram como
certo que ela iria apoiar o Aécio como se fosse uma verdade, uma decisão
pronta e acabada. Quem conhece a Marina sabe que ela não faria isso,
não dessa forma pelo menos. E muito provavelmente ela não tomará essa
decisão”, disse à RBA um integrante da Rede.
Há até quem defenda, na organização, o voto na petista Dilma
Rousseff, mas a postura do PT em relação à candidata do PSB no primeiro
turno praticamente inviabilizou qualquer ponte de possíveis contatos
mais concretos e a defesa aberta dessa posição. Porém, isso está longe
de significar que Marina vá apoiar Aécio.
O peso de seu posicionamento no segundo turno pode ser medido por uma
pesquisa feita na segunda-feira com eleitores de Marina. Pouco mais de
60% desses eleitores tenderiam a votar em Aécio, 20% votariam em Dilma e
15% aguardam um posicionamento da ex-candidata. A importância da
neutralidade é diretamente proporcional a esses 15%, que representam
cerca de 3 milhões de votos.
Maioridade penal e PEC 215
Para os defensores da ideia de Marina não apoiar Aécio, a história da
ex-ministra do Meio Ambiente é inconciliável com algumas propostas do
tucano. A diminuição da maioridade penal, defendida por Aécio
Neves durante sua campanha, e a PEC 215, encampada pela bancada
ruralista, são dois pontos considerados intransponíveis pelos opositores
do apoio ao tucano. O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) é um dos
apoiadores de Aécio. Ontem, Caiado disse que estará “maravilhosamente bem" ao lado de Marina.
A PEC 215 retira da Funai, do Ministério da Justiça e da
Presidência da República a decisão sobre a demarcação das terras
indígenas. A competência passa ao Congresso Nacional.
Além disso, os que na Rede não apoiam Aécio entendem que muito da
desidratação dos votos de Marina se deu no campo progressista, a partir
da entrada no programa de governo de “uma série de pautas
(principalmente econômicas) que nunca foram da Marina, não
eram da Rede, não foram discutidas”. “Isso desgastou a Marina. Se ela
apoia Aécio, vai ser a confirmação de um caminho que não é o dela”,
argumenta a fonte.
A Rede não fechou questão em torno de um posicionamento
consensual. No fim da tarde desta sexta-feira (10), o partido divulgou
uma nota “em face de informações inverídicas ou imprecisas que têm
circulado na imprensa”. Na nota, a Rede declara que “mantém a posição de
considerar o voto de seus militantes em branco, nulo ou em Aécio Neves
como legítimos”.
Segundo a entidade, nenhum dos projetos em disputa a representa. “A
Rede esclarece ainda que não está negociando suas posições com a
candidatura Aécio.” Afirma também que “a adesão da Rede à candidatura de
Aécio Neves não está em questão”. E conclui afirmando reconhecer “a
legitimidade de Marina Silva, como nossa ex-candidata, de se posicionar
conforme sua consciência”.
Já o PSB do vice Beto Albuquerque e de Eduardo Campos decidiu pelo apoio oficial a Aécio.

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