Entidade representativa dos advogados argumenta que
o presidente cometeu crime de responsabilidade, com base em delação premiada de
executivos da J&F.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entregou na tarde desta quinta-feira (25) à Câmara dos Deputados o pedido de impeachment do presidente Michel Temer. A entidade também pediu que Temer fique inabilitado de exercer cargo público por oito anos.
A entidade usa como base a delação
premiada de executivos da J&F para argumentar que o presidente cometeu
crime de responsabilidade e violou o decoro do cargo de presidente. Com base no
que foi informado, o ministro Luiz Edson Fachin, relator da Lava Jato no
Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de inquérito para investigar
Temer.
"O pedido da OAB leva em
consideração as manifestações do presidente da República, que em dois momentos,
em rede nacional de televisão, declara textualmente conhecimento com relação a
todos os fatos. O presidente declara que escutou desse empresário, que ele nominou
como fanfarrão e delinquente, todos aqueles crimes e nada fez com relação ao
que escutou", disse o presidente da OAB, Claudio Lamachia, ao chegar à
Câmara.
Antes de protocolar o pedido,
Lamachia acrescentou que a entidade também pediu o impeachment de Dilma
Rousseff, "o que demonstra que a OAB é uma instituição absolutamente e
apartidária."
"Há menos de um ano,
lamentavelmente, fomos nós da OAB, fui compelido a apresentar o pedido de
impeachment da então presidente da República Dilma Rousseff. A OAB cumpre o seu
papel, apresenta dois impeachments de dois presidentes da República, processos
de impeachment diametralmente opostos no que diz respeito à questão das
ideologias partidárias, o que demonstra que a OAB é uma instituição
absolutamente independente e apartidária", declarou.
Além do pedido da Ordem, já há outras 16 solicitações de
destituição de Temer protocoladas no Congresso Nacional.
Desses pedidos, 13 foram
apresentados desde a semana passada, após se tornar público o conteúdo da delação premiada dos
donos da JBS, Joesley e Wesley Batista.
As delações atingem, principalmente, o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves
(PSDB-MG), afastado do mandato parlamentar por determinação do Supremo Tribunal
Federal.
O pedido da OAB foi protocolado na
Câmara pelo presidente da entidade, Claudio Lamachia, por conselheiros federais
e presidentes das seccionais da entidade representativa dos advogados.
No último fim de semana,
representantes da OAB de 24 estados e do Distrito Federal votaram a favor da apresentação de um
pedido de impedimento do
peemedebista. Só a seccional da entidade no Amapá se posicionou contra.
Gravação
Como parte do
acordo de delação, Joesley Batista entregou ao Ministério Público Federal
gravação de uma conversa com Temer na qual relatou crimes que teria cometido
para obstruir a Justiça.
O empresário usou um gravador
escondido durante uma reunião com o presidente na noite de 7 de março, no
Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-presidência, onde Temer mora.
O áudio também dá a entender,
segundo os investigadores da Lava Jato, que Joesley teria recebido aval do
presidente para comprar o silêncio do deputado cassado Eduardo Cunha. A defesa
de Temer afirma que o áudio foi editado a pediu a suspensão do inquérito.
Na avaliação da OAB,
independentemente de uma eventual edição da gravação entre Temer e o
empresário, a conversa no Palácio do Jaburu indica que o presidente da
República cometeu crime de responsabilidade.
A OAB identificou crime de
responsabilidade em dois trechos da conversa entre Temer e Joesley. No
primeiro, o empresário diz que tinha a favor dele dois juízes e um procurador.
A entidade dos advogados afirma que o presidente deveria ter informado às
autoridades imediatamente. Na conversa, Temer responde "ótimo,
ótimo".
Em outro trecho, o delator da Lava
Jato pede ajuda a Temer para resolver assuntos pendentes no Conselho Administrativo
de Defesa Econômica (Cade). Para a OAB, um favor pessoal é incompatível com o
cargo de presidente.
G1
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