O presidente Michel Temer já se prepara para enfrentar a segunda denúncia que será encaminhada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Congresso e vê aumentar o clima de pressão sobre o governo. A denúncia deve ser encaminhada ainda esta semana à Câmara e diz respeito às investigações sobre obstrução de Justiça e associação criminosa, ambas relacionadas ao conteúdo da delação premiada da JBS.
Além da cobiça por cargos, que vem desde a rejeição da primeira denúncia por corrupção passiva, o Planalto se vê diante da indisposição dos parlamentares para enfrentar dois temas que provocam desgaste com o eleitor, a um ano das eleições: rejeitar uma nova denúncia contra o presidente e ainda aprovar a reforma da Previdência. Como resposta aos votos contrários a Temer na votação do dia 2 de agosto, o governo trabalha com a exoneração de mais de 130 servidores de segundo e terceiro escalão, ligados a deputados infiéis.
A segunda denúncia contra Michel Temer está quase pronta e não deve incluir outros investigados. Na semana passada, o GLOBO revelou que Janot não deixaria para sua sucessora, a procuradora Raquel Dodge, a tarefa de encaminhar ao Congresso a acusação contra o peemdebista. O mandato de Janot termina no dia 17 de setembro. Na primeira denúncia, pelo crime de corrupção passiva, a maioria dos deputados impediu o prosseguimento do caso, em meio à liberação de verbas destinadas ao pagamento de emendas parlamentares.
Agora, a maior pressão sobre o Planalto é para a retaliar os deputados que votaram contra Temer na primeira denúncia e, principalmente, retirar o tucano Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo) da articulação política. O PSDB rachou na defesa de Temer.
A insatisfação é tanta que há deputados do centrão e do PMDB que não querem mais despachar com o ministro e se encontram diretamente com Temer ou com o Padilha. Apesar disso, a disponibilidade do Planalto em trocar titulares das pastas é, nas palavras de um assessor do governo, “menor que zero”.
— Essa fatura pedida pelos deputados é impagável, o apetite deles não tem fim. Quanto mais cargo a gente dá, mais eles querem — afirma um interlocutor do Palácio.
DIFICULDADE NA PREVIDÊNCIA
Ao longo do dia de ontem, ministros e assessores negaram que o governo vá acelerar a liberação de cargos por conta da possibilidade de uma nova denúncia vir à tona esta semana. A despeito das pressões da base por espaços no governo, em especial vindas do PMDB e do centrão, o discurso é de que o governo vai manter o mesmo ritmo de demissões e nomeações. Desde a votação da primeira denúncia que pesou contra Temer, partidos da base aliada pressionam por mais cargos e por maior rapidez na liberação das emendas.
Com o fantasma de uma nova denúncia a rondar o Palácio do Planalto, interlocutores do presidente Michel Temer admitem que a aprovação da reforma da Previdência, que já era muito difícil, passa a ficar ainda mais complicada. Embora o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, diga que uma nova denúncia não vai afetar a reforma da Previdência, governistas admitem uma contaminação do clima no Congresso, o que vai dificultar a votação. Segundo um interlocutor de Temer, a Previdência está hoje “no limbo”.
— A Previdência está no limbo, não está um clima bom para votar. Mas se a gente não fizer, vai ficar para o próximo governo, então precisamos resolver isso. A previsão continua outubro, mas vamos ver se a política deixa — afirmou um assessor do governo.
Apesar disso, assessores de Temer e de seus principais ministros afirmam que o governo não deve trabalhar com um cenário hipotético e que, portanto, o presidente só deve se defender quando — e se — o fato se concretizar. Os auxiliares de Temer ainda provocaram o procurador-geral.
— O governo não trabalha com hipóteses. Se a segunda denúncia acontecer e tiver a mesma consistência da primeira, está tudo tranquilo — brincou um assessor, sob a condição do anonimato.
Uma das avaliações feitas no Palácio é de que Janot tem agido, principalmente por conta da proximidade do fim do mandato, de forma “excessivamente política” e pouco jurídica e que uma nova denúncia é até esperada pelo governo.
— O governo está refém do Janot até 17 de setembro. Parece que ele quer movimentar o governo a qualquer custo, e vem tendo atuação muito mais política que jurídica, apesar de respeitarmos a função dele como procurador.
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