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18 de fevereiro de 2013

Raios matam 130 pessoas e deixam 200 feridas por ano no Brasil


Na mesma semana em que um meteoro assustou o mundo, em São Paulo caíram quase dois mil raios em um único dia. Há dez anos não se via uma tempestade elétrica tão violenta na cidade.
Em nenhum lugar do planeta cai tanto raio como no Brasil. São mais de cem mortes por ano. Por isso, o Fantástico pede a sua atenção para a série feita em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Um guia repleto de curiosidades, dicas e histórias incríveis de sobrevivência. Vai começar a viagem pelo "país dos raios"!
Tem gente tão fascinada por descargas elétricas que fabrica raios por conta própria, com um equipamento chamado bobina de tesla. “Comecei a fazer com 14 anos, em 2009”, diz o estudante de Engenharia Eletrônica Grégory Gusberti.
Ele explica como funciona: “Ela acumula energia aos poucos, na parte metálica superior, até um ponto que a energia escapa, formando uma faísca”.
“O Grégory é meio autodidata. Ele se instruiu, estudou para chegar no ponto onde hoje ele desenvolveu essa estrutura bastante potente”, diz o professor e físico Giovane Mello. Ele explica que uma gaiola blinda a pessoa que está dentro para que ela não sofra nenhum choque elétrico. “Ela fica protegida”, garante.
“Mesmo sabendo que, teoricamente, essa gaiola vai evitar que eu seja eletrocutado, tenho que admitir que ficar aqui dentro é uma sensação eletrizante! Afinal de contas, não é todo dia que a gente fica bem na reta de uma faísca de mais de 700 mil volts”, conta o repórter Ernesto Paglia.
A simulação que não chega nem perto da intensidade, da força e do tamanho dos raios produzidos por uma tempestade de verdade
Na natureza, as descargas elétricas riscam vários quilômetros no céu até atingir o solo, com uma potência de 100 milhões de volts. Comparando com as tomadas que temos em casa, é uma voltagem praticamente um milhão de vezes maior.
Já a intensidade da corrente de um raio é, em média, de 30 mil ampéres. Para se ter uma ideia, essa corrente é mil vezes mais intensa do que a de um chuveiro elétrico.
É uma força devastadora.
No dia 16 de janeiro deste ano, um incêndio em uma usina de etanol no interior de Goiás durou mais de nove horas. Um raio atingiu um tanque com 17 milhões de litros de combustível no município de Caçu. No mesmo dia, outro raio abriu um buraco na parede do quarto onde um bebê dormia no berço, em Brasília.
Em 27 de dezembro do ano passado, dois homens morreram atingidos por um raio enquanto jogavam futebol em Tangará da Serra, no Mato Grosso.
Um casal de turistas morreu durante o temporal do dia 6 de janeiro, em Bertioga. Foram as primeiras mortes por raio em 2013 no estado.
Notícias como essas são tristemente comuns. Os raios matam, em média, 130 pessoas  por ano no Brasil. Outras 200 ficam feridas. Estamos no auge da temporada: o período entre outubro e março é crítico.
O Brasil é o país que tem a maior concentração de raios de todo o mundo. São cerca de 50 milhões por ano e a explicação é geográfica. Nós somos o maior país da chamada zona tropical do planeta, essa região central, onde o clima é mais quente e, portanto, mais favorável à formação de tempestades. E onde há tempestades, há raio. Mas como se proteger deles? Como prever onde eles vão cair?
Em Cachoeira Paulista, no prédio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o tupã da era tecnológica pode ter a resposta. Tupã é o nome do supercomputador capaz de prever com mais precisão onde vão acontecer as tempestades.
“A previsão até hoje no Brasil era feita numa escala de 20 quilômetros. Ou seja, um quadradinho de 20 por 20 quilômetros era a resolução que nós tínhamos. Hoje, com esse novo supercomputador, esse quadradinho de 20 por 20 vai passar a ser de 5 por 5 quilômetros”, diz o maior especialista em raios do país, Osmar Pinto Junior.
Ele vai viajar com o Fantástico de norte a sul do país para mostrar o que há de mais avançado no monitoramento de tempestades.
“Nós já instalamos 60 sensores no Brasil e estamos instalando mais uns 40. Vai ser a segunda maior rede do mundo. Estamos investindo muito na geração de alertas confiáveis, com a máxima antecipação possível”, explica Osmar. Alertas assim são enviados, por exemplo, ao canteiro de obras da Arena Corinthians.
Com uma supercâmera lenta, é possível enxergar os raios em detalhes. Veja no vídeo.
Com a ajuda de satélites e de sensores no solo, o Inpe consegue identificar o "quadradinho" de cinco por cinco quilômetros onde há maior incidência de raios, hoje, no Brasil. Ele fica na região amazônica, uma área onde o calor e a umidade favorecem a formação de tempestades.
A chance de você repetir oito vezes seguidas, o mesmo resultado, num dado, é quase impossível, mas essa é a probabilidade, ou o risco, de alguém ser atingido, em média, por um raio, no território brasileiro. Mas, se for na Amazônia, a coisa muda. No trecho que existe entre a cidade de Coari e Manaus, a capital do estado do Amazonas, a probabilidade de alguém ser atingido por um raio é a mesma coisa que você tirar três vezes o mesmo resultado no dado.
É difícil, mas não é impossível. “Eu perdi a minha cunhada, que estava grávida, faltando duas semanas pra ganhar o bebê”, diz Edilaine.
Com o dado não tem problema, mas dados estatísticos fazem a gente se preocupar. Raio é coisa séria.
Manaus é a cidade do Brasil onde mais pessoas morreram atingidas por raios na última década. São 16 pessoas só na cidade de Manaus”, aponta Osmar.
Segundo o Inpe, 80% das mortes por raio no Brasil poderiam ser evitadas. Basta as pessoas saberem como devem se proteger.
“Eu tampo os espelhos, porque diz que os espelhos puxam o raio”, diz uma mulher.
“A gente não pode ficar em campo aberto”, conta uma menina.
“Acho que o medo deve ser tão grande que a cabeça acaba não racionando e pensando como a gente deve realmente agir”, acredita outra mulher.
Para tirar as dúvidas, o Inpe preparou uma cartilha de proteção contra raios, que o Fantástico começa a mostrar neste domingo (17).
O primeiro mandamento é não ficar em lugares abertos, como praias ou beira de rio, durante uma tempestade.
Em outubro de 2011, quando o tempo fechou na prainha do rio Tarumã, em Manaus, as filhas de Raimundo Alves da Silva procuraram abrigo em um quiosque. “Começou a chover muito forte. Aí deu o primeiro raio, escureceu o céu todo. Aí no segundo raio ninguém lembra mais de nada”, conta Andreza.
Ela, a irmã e três amigos que estavam embaixo do quiosque desmaiaram ao receberem a descarga elétrica que veio pelo chão.
“Às vezes eu me emociono porque você vê as suas filhas desmaiadas, assim, e sente aquele momento que você ta perdendo duas filhas”, diz seu Raimundo, emocionado. Eles contam que elas ficaram cinco minutos desmaiadas.
Quando um raio atinge o solo, a corrente elétrica se espalha até cerca de 50 metros em volta do ponto de contato. Isso significa que, quem estiver descalço, como Andreza e a irmã estavam, pode ser atingido por essa corrente indireta que vem pelo chão.
Na água, o raio se propaga a uma distância ainda maior. Por isso, é muito perigoso ficar no mar ou em uma piscina durante uma tempestade.
“Eu aprendi que em temporais a gente não pode ficar embaixo só de uma casinha, a gente tem que se proteger mais”, diz Andreza.
Quiosque, guarda-sol, barraca de praia, marquise ou ponto de ônibus, nada disso serve. Para ser eficiente, o abrigo tem que ser totalmente fechado. “O que deveria ser feito em uma situação como essa é ir para os automóveis. A maioria das pessoas vem para cá de carro e o carro é um lugar totalmente seguro”, aponta Osmar.
Mas tem que ser dentro do veículo, com as portas e janelas fechadas.
Raimundo e Nilzimar não estavam na praia, mas usaram o carro como abrigo quando uma tempestade caiu sobre o sítio onde moram nos arredores de Manaus.
“A tempestade era muito pesada mesmo e, quando começou a cair os primeiros pingos de chuva, aí caiu o primeiro raio. Deve ter caído um ou dois raios na imediação aqui, mas o primeiro caiu exatamente no transformador, no poste da energia, derrubando o fio de alta tensão no chão”, relembra o marceneiro Raimundo Bezerra.
Ele conta quando foi para o carro: “Quando eu vim tentar desligar o disjuntor na outra casa, eu já percebi que estava dando choque no chão, eu corri peguei minha esposa e coloquei ela no carro e fiquei dentro”.
O carro é seguro porque funciona como isolante elétrico. A corrente se distribui pela estrutura metálica sem atingir quem está dentro.
É o mesmo princípio da máquina de raios mostrada no início da reportagem. Na física, esse efeito é conhecido como ‘gaiola de Faraday’
Na próxima tempestade, a gente já sabe: o melhor é ficar dentro de um carro ou de outro veículo fechado, como um ônibus, por exemplo.
Fonte G1

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